Os meus conhecimentos sobre orientação
e localização, me faz regressar a infância.
A primeira vez que precisei utilizar de
orientação e localização eu tinha 6 anos, íamos sempre ao clube fazer natação eu
e meus irmãos, em Belo Horizonte nas Minas Gerais, no bairro de Lurdes.
Morávamos
no Bairro Santa Maria uma distância de uns 30 km do bairro de Lurdes, e meu pai
sempre nos levava de carro.
Porém eu sempre observei os ônibus que
passavam em frente a minha casa, e em pleno carnaval em 1972, meus pais
deixaram-me ir a uma matinê com minha
irmã e a baba que na época “cuidava de mim”.
Pegamos
o ônibus e chegamos ao clube, não pude entrar na matine, a idade mínima era
10 anos, só podiam entrar minha irmã com 11 anos e a babá então com 16.
Deixaram-me sentada na porta do clube e lá
foram as duas pular carnaval por 4 horas.
Após 4 horas sentada na porta do
clube Atlético Mineiro, o final do baile, fiquei “atenta”, se é que podemos
dizer que uma criança de 6 anos fica atenta.
Passaram por mim, não vi, elas também
não, depois de se esbaldar dançando as
marchinhas que até hoje todos cantam, o teu cabelo não nega mulata, mamãe eu
quero, o abre alas, etc.,(eu do lado de fora também aprendi a cantar todas)
foram embora e já era umas 6 horas da tarde quando vi o clube fechando e ninguém
na porta, o breu tomando conta, ai dei por mim que estava sozinha.
O que fazer agora? Bom ai entra meu
primeiro contato e preocupação com orientação e localização, onde que eu estou?
Como vou chegar em casa? A quem e o que recorrer?
Sem
choro desci até a avenida amazonas uns 7 quarteirões (que pareciam 20 para uma
criança de 6 anos), eu sempre fazia esse caminho com meu irmão mais velho
quando meu pai não podia nos levar ao clube, enfim cheguei na Av. Amazonas (na
Briquedolândia) uma loja de brinquedos onde era o sonho e paraíso de todas as
crianças da minha idade.
Agora era o ponto crucial, a noite já havia
caído e meu irmão sempre falava que eu não podia atravessar a Av. Amazonas sozinha
(umas das mais movimentadas de BH). E agora? O ponto do ônibus para ir para
casa era do outro lado.
Bom, sentei na esquina e comecei a
chorar, ufa vi o carro do meu pai, mas não consegui alcançar. (Nesse momento
minha família já estava em pânico até na radio já havia anunciado, meu sumiço).
Voltei para esquina e sentei de novo, não podia atravessar a Av. Amazonas.
Enfim época da ditadura, mas eu não
tinha medo de policia, eis que me aparece um policial militar, e conversa vai,
conversa vem me convenceu a me levar pra casa, eu sabia que não podia conversar
com estranhos, mas era a única opção que me restava. Na época os ônibus eram
coloridos e eu não sabia ler, pelas cores do ônibus eu consegui identificar o ônibus
que ia pra minha casa e levei o policial até lá.
Quando chegamos as 23:00 hs em casa à família
estava toda reunida, meus tios, primos que ouviram na rádio já chegavam em
casa, minha irmã com a bunda doendo levou uma surra, a babá levou um pito, e eu
ganhei uma carteirinha de identificação de “sou mais um amigo da Policia
Militar”, nunca vi minha mãe tão feliz.
Meu pai chegou bem depois (nessa
época não tínhamos telefone em casa), e sei que virou uma festa, e eu não
entendi nada.
Concluo que este foi o meu primeiro
contato com localização e orientação e até hoje gravo os pontos de referência é
a chave para chegar aos locais.
Autor: Rosilene H. Guilherme
Autor: Rosilene H. Guilherme